Toni Eerola
Expresso aqui a minha preocupação com a onda de neoconservadorismo na sociedade brasileira que se refletiu aqui na Finlândia numa tempestade na caipirosca. Esta foi a reacão diante do vídeo de Jukka Hentilä, postado na Comunidade Brasileiros na Finlândia. No vídeo, feito na Festa da Independência do Brasil no Hotel Seaside Radisson, nos dias 9-10.09., dois casais dançam lambada, que aparentemente agora é chamada de lapada na rachada. As dancarinas estavam com saias curtas, com a eventual aparição da tanga. Nada de anormal para este tipo de show e música. Mas alguns brasileiros, membros da comunidade, reagiram fortemente, se horrorizando com a calcinha, com a música e dizendo que “esta não é minha cultura!”.
Entendo que isto é uma reação à “bundização” da cultura no Brasil, principalmente na TV, que começou nos anos 90 com a bunda music (termo do Lobão) do Grupo É o Tchan. Baseado nisto, poderia se fazer um doutorado sobre a importância do traseiro na música popular brasileira. Vulgarizou-se a sensualidade nata da música brasileira. Curiosamente ao mesmo tempo vários tipos de seitas religiosas radicais estavam crescendo. Agora esta revolta assume proporções talebãs quando uma moça vai de vestido curto à faculdade no Brasil ou dançarina profissional faz um show no exterior. O que mais me preocupa, é que isto é expressada por jovens.
A atitude de uma certa parcela da classe média urbana em relação a certos estilos musicais brasileiras populares já é um fenômeno mais antigo. A rejeição da música baiana, amazonense, nordestina, sertaneja, funk carioca, samba, etc., e a supervalorização da música de origem ou influência européia/americana, seja ela rock, jazz, bossa nova, MPB ou clássica, são tentativas desesperadas e patéticas de se tentar distinguir do “povão”, do índio, caipira, negro, pobre e de ter “bom gosto”. Ao mesmo tempo estes moderninhos posam de liberais e progressistas. Desprezo à nudez e sensualidade das influências índia e africana, imposta pelas condições climáticas, é o outro lado desta mesma moeda.
Eu entendo perfeitamente que se pode estar preocupado com a imagem do Brasil morando no exterior, pois a sensualização da mulher brasileira pode ter reflexos em como as mulheres brasileiras são tratadas aqui. A força do imaginário popular acerca do Brasil pode ser grande neste sentido (http://www.kepa.fi/kumppani/arkisto/2006_11/5399).
Porém, eu sinto em dizer que com o que os brasileiros deveríam estar mais preocupados em relação à imagem do Brasil no exterior, são a corrupção, miséria, violência, injustiça social, desmatamento da Amazônia, etc. Estas sim, são imorais e cafonas e não uma tanga que porventura apareça e que faz parte da dança e do show. Ninguém dos presentes perdeu o controle ou achou que toda mulher brasileira é prostituta por causa disto. Quem pensou nisto deveria rever os seus conceitos. O turismo sexual vai para países em desenvolvimento por causa das condições sociais, independendo se há samba, bunda e lambada. Na Tailândia não há nada disso.
No balé, tênis e a patinação feminina no gelo também aparecem as calcinhas e tudo mais, mas são manifestações culturais européias “consagradas”, de “gente branca e de olhos azuis”. Eis a diferença? Não gera revolta de ninguém. E ninguém falou das sambistas finlandesas do mesmo show. A elas se permite, mas não às legítimas brasileiras. Por que?
Me desculpem, mas acho um pouco perigoso vir e dizer o que nos é permitido mostrar, ver e ouvir aqui. Quem faz este tipo de coisa na Europa, é geralmente uma minoria muçulmana radical.
Agora com um pouco de humor e como homem, eu acho que a “Bunda”, no melhor sentido brasileiro, esta dádiva da seleção natural, é um recurso natural escasso por estas latitudes, principalmente bem torneada e exposta, que acho que está se promovendo “o moral e os bons costumes” no lugar errado.
Burqa ou bunda, eis a questão. Prefiro a última. Que as mulheres me perdoem, mas a bunda é fundamental, pelo menos no samba.
Dançar samba de burqa, será que daria certo e que graça teria? Poderia se achar uma interessante mistura cultural, mas particularmente penso que seria uma ofensa à cultura e à mulher brasileira.